quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pássaro de Prata

          O barulho da vidraça quebrada anunciava confusão. Miguel e Júlio ficaram esperando a cara brava do seu Osório aparecer na janela.
          Eles estavam paralizados e temerosos porque a bola era nova e não era deles.
          Seu Osório não apareceu na janela dizendo nomes feios. Não apareceu. Não disse nada. Tudo parado e quieto.
          Não se pode determinar o tempo que eles ficaram parados, esperando. Certo é que perceberam que não havia ninguém na casa. Então resolveram entrar.
          A porta não stava fechada. Empurraram devagar e puderam ver a bola ao lado do sofá grande, como que esperando por eles.
          Miguel entrou primeiro, Júlio era mais temeroso. Era a primeira vez que punham os pés na casa de seu Osório. Miguel já ia pegar a bola quando percebeu a presença de um objeto sobre um paninho bordado na estante.
          (...)
                                                   ***
                                LUZIA ALMEIDA. Trapiche, pags. 58 e 59

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O laço de fita

O Internato ficava na estrada que levava à cidade. Era seguir em frente e antes de chegar à cidade dobrava-se à direita e seguia-se mais um quilômetro.
O prédio era imponente e as portas altas.
(...)
A diretora sente-se protegida pela paz daqueles olhos profundos.
A moça se aproxima e pega sua mão. A diretora sente algo na mão de Eugênia. Alguma coisa que não queima, porque não é uma condenação. É um laço. A diretora sente aquele verde como a brisa de um rio. Um rio de esperança que sempre avança. então ela pode falar:
- Estava com saudades.
- Eu sei. Por isso estou aqui.
                                                ***
                                  Luzia Almeida, TRAPICHE, pags.62 e 68

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Diamantes para Paola

(...)
Levantou-se de repente e quase desmaiou quando se viu num vestido preto, justo e, com certeza, caríssimo. As sandálias de salto se ajustavam nos seus pés sem dor. E o esporão? Aqueles pés bem cuidados jamais admitiriam um esporão. Os cabelos eram longos e sedosos de um castanho claro natural. Não, aquela não era ela. O que teria acontecido? Passou as mãos no rosto, a maciez era nítida. Como seria seu rosto? Ela estremeceu. Estaria sonhando? Fez um teste, recapitulou suas ações: saiu do trabalho para ir ao shopping, pegou um ônibus, desceu, aproveitou o sinal vermelho para os carros, atravessou a rua e entrou no shopping para pagar uma conta. Onde estaria a pasta plástica verde com a conta de luz? Ela realmente não saberia responder. Também não sabia onde estava, mas suspeitava que estivesse fora do Brasil. As inscrições nas lojas não eram em português. Seriam em italiano?
Resolveu procurar um banheiro, mas alguém tocou em seu braço, parecia um segurança. Ele disse alguma coisa, mas ela não entendeu direito. O homem entregou-lhe uma bolsa.
(...)
                                           ***
                                         Luzia Almeida. TRAPICHE, pag.41

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Encontro no Mangal

(...) 
Igarité era a palavra.
Ela agora pensava no dia em que conheceu Henrique. Foi no Museu da Navegação. Júlia escrevia o pequeno vocabulário das embarcações da Amazônia quando ouviu a voz dele bem perto do seu ouvido. O que foi mesmo que ele disse? Ela fazia uma pesquisa, estava anotando aquelas palavras: batelão, canoa, casco, gaiola, galeota, gambarra, igarité... Ele disse no seu ouvido "embarcação maior que a montaria e menor que a galeota". Júlia assustou-se, olhou pra trás e viu e viu um moço elegante, bonito e charmoso com uma voz acentuadamente masculina. Ele prosseguiu "seu nome deriva do tupi igaia, canoa e eté, verdadeira."
Ela queria livrar-se desses pensamentos. Prosseguiu com o inquérito:
- Como ele vai reconhecê-la?
(...)
                                    ***
                                   Luzia Almeida, TRAPICHE, pag.77
  

domingo, 2 de outubro de 2011

A boneca

- Ah, e por falar nisso... o que queres ganhar no Dia dos Namorados?
- Dia 12 de junho, Dia dos Namorados, quero ganhar uma boneca Barbie! - exclamou com convicção.
Não havia dúvida. Era definitivo.
- Por que queres ganhar uma boneca?
- Por que seria outra coisa?
- Ora, não és mais criança...
- Não sou criança?! Estás enganado! Sou subordinada aos impostos, subordinada no Trabalho, subordinada pelo Tempo e, para completar - ela fez uma cara de intelectual - subordinada pelo Espaço. É claro que, mesmo sendo adulta, mãe, professora com 20 anos de magistério e com 48 anos de idade, não passo de uma criança.
Ele a observava desconfiado. Iria entregar-se?
(...)
                                                ***
                                   LUZIA ALMEIDA, TRAPICHE. pag.33
                                                ***
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Belém-Pará