terça-feira, 13 de outubro de 2020

A descoberta







 Ainda era escuro e Pedro já estava em pé ao lado da mãe que fazia tapioca. Além de tapioca, ela também fazia todo trabalho que aparecia para sustentar os filhos.

Pedro precisava sair cedo, vender tudo pra ajudar nas despesas da casa. Era preciso ser esperto, cativar os fregueses com uma fala simpática que ele treinava com a mãe: "Moço, vai uma tapioca?" e em seguida: "Moço, tapioca sem café não tem graça!..." Geralmente os fregueses compravam a tapioca e o café de Pedro, muito cedo, na garagem perto da casa dele. Os motoristas já o conheciam e perguntavam:

- Não vais pra aula hoje?

E ele respondia:

- Hoje não dá, preciso ajudar minha mãe.

Nunca dava! E os motoristas haviam se acostumado com a tapioca branquinha de Pedro, com seu jeito simpático e sua fala de bom menino.

Os motoristas insistiam:

- E as provas? Já começaram?

Pedro sorria e dizia um "não" meio sem graça. Na verdade, ele nem tinha noção das datas de provas porque raramente ia à escola. Estava matriculado, mas quase não aparecia por lá.

Os trabalhadores sabiam que Pedro precisava ir à escola, mas tinham orgulho daquele menino trabalhador que acordava muito cedo pra vender tapioca na porta da garagem. E o orgulho amenizava a preocupação com o futuro do menino.

Foi numa época de férias, quando um motorista perguntou se ele não iria viajar, Pedro chorou. Os outros motoristas e os cobradores estranharam aquele choro, haviam esquecido que Pedro tinha apenas dez anos e que muitas coisas ainda não faziam sentido na vida dele. Não ir à escola pra ajudar a mãe era algo maduro que considerava direito: ele sabia ou pensava que sabia o que era escola; e trabalhar, ele trabalhava todo dia, mas quando o motorista falou em férias, seu coração descobriu possibilidades que somente a escola daria.