Pedro precisava sair cedo, vender tudo pra ajudar nas despesas da casa. Era preciso ser esperto, cativar os fregueses com uma fala simpática que ele treinava com a mãe: "Moço, vai uma tapioca?" e em seguida: "Moço, tapioca sem café não tem graça!..." Geralmente os fregueses compravam a tapioca e o café de Pedro, muito cedo, na garagem perto da casa dele. Os motoristas já o conheciam e perguntavam:
- Não vais pra aula hoje?
E ele respondia:
- Hoje não dá, preciso ajudar minha mãe.
Nunca dava! E os motoristas haviam se acostumado com a tapioca branquinha de Pedro, com seu jeito simpático e sua fala de bom menino.
Os motoristas insistiam:
- E as provas? Já começaram?
Pedro sorria e dizia um "não" meio sem graça. Na verdade, ele nem tinha noção das datas de provas porque raramente ia à escola. Estava matriculado, mas quase não aparecia por lá.
Os trabalhadores sabiam que Pedro precisava ir à escola, mas tinham orgulho daquele menino trabalhador que acordava muito cedo pra vender tapioca na porta da garagem. E o orgulho amenizava a preocupação com o futuro do menino.
Foi numa época de férias, quando um motorista perguntou se ele não iria viajar, Pedro chorou. Os outros motoristas e os cobradores estranharam aquele choro, haviam esquecido que Pedro tinha apenas dez anos e que muitas coisas ainda não faziam sentido na vida dele. Não ir à escola pra ajudar a mãe era algo maduro que considerava direito: ele sabia ou pensava que sabia o que era escola; e trabalhar, ele trabalhava todo dia, mas quando o motorista falou em férias, seu coração descobriu possibilidades que somente a escola daria.