quinta-feira, 31 de outubro de 2013

11. A bailarina

          (...)
          Ela iria  desistir. Seus olhos brilhavam com tonalidades melancólicas, com anúncios de sentimentos profundos como as ondas do mar que batem nas pedras sem compaixão; vivo como o vermelho das rosas e misterioso como a lua que os espiava naquela noite de abril.
          Então ele a olhou espantado. Perdido de si mesmo e encontrado naqueles olhos tristes que, como uma dança de venturas, convocavam seu coração. Perdido que estava, continuou: calmo, cativo e para sempre poeta. Encontrado e perdido no ballet triste dos olhos dela.
                                                   ***
                        Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pag. 64
                                                   ***
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Abraços
e BOA LEITURA!...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

10. Uma hora de vida

          (...)
          Voltar a casa, ela não voltaria. As marcas nos braços e no rosto protestavam contra este retorno. Marcas que se cristalizavam no coração dela. A afeição pelo marido se transformou em rancor. Mas, e quando ele voltasse do trabalho? É certo que deixou o jantar pronto. Mas, e amanhã? Quem faria o almoço dele? Como ele reagiria? Maria teria coragem de abandonar o marido? De abandonar a casa? O marido era seu carrasco e a casa, sua prisão.
          (...)
          As pessoas já estavam entrando no ônibus. A senhora ainda a aguardava. Ela agradeceu aquela gentileza e espantada perguntou ao moço que horas seriam. O moço respondeu:
          - São quinze e quarenta e cinco. Hoje ele sai no horário.
          Ela espantou-se e olhou para o seu relógio.
          Estava parado.
          Maria pegou sua mala e entrou no ônibus. Agora, sentada e acomodada, a lembrança do anel não magoava tanto e ainda havia o vento no rosto dela. Ficou olhando a paisagem e voltou a pensar no tempo em que era feliz em sua cidade natal.
                                              ***
Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pags. 60 e 63.
                                              ***
O ENEM está chegando e o tema "VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER é bem possível. Se for, não esqueçam de colocar uma proposta de solução para o problema que vai deste a reconstrução da sociedade via família até programas e campanhas educacionais que possibilitem a visão da mulher como pessoa, como ser humano. 
Todos os possíveis temas passam pelos DIREITOS HUMANOS. Não esqueçam! E boa prova.
Abraços
Luzia Almeida

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

9. Dia Neutro

         (...) O coração abriga alegria e pranto e isto configura exatamente o princípio humano, a sua complexidade, o sentimento. O misto de alegria e tristeza bancado pela necessidade da emoção e da dor. Entende-se a alma humana. Mistério e devoção comungando efeitos opostos. Assim encontrava-se a felicidade e com ela a dor.
          Ela sabia disso e por isso chorava.
          (...)
          Ele pegou a mão dela e beijou. Beijou várias vezes a mão que o acariciava com seus escritos.
          Ela sorriu satisfeita. E encantada daquele amor disse:
          - Ontem sonhei contigo. Mas não era a tua imagem querida... Sabia que eras tu, mas não via o teu rosto.
          Ele sorriu e a abraçou. Ela disse:
          - Por favor, não me deixe. Eu morreria...
          Ficaram abraçados naquela aventura finita e passional.
          Ela era uma mulher poderosa, mas perto dele não passava de uma menina. Ele era louco por ela e, portanto, apenas um menino. Fingiam equilíbrio emocional naquele dia neutro feito pra eles.
          O sol ia sumindo. O dia acabaria. A noite era o último estágio e eles sabiam disso. Ela quis chorar, mas ele não deixou. Liberto da máscara, ele escndalizou ideias de bem querer:
          - Eu te adoro!
          Agora era o mar profundo nos olhos dela. 
          (...)
                                            *** 
           Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pags. 58 e 59.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

8. Morceguinho

          (...)         
          Morceguinho era ladrão e assassino, mas gostava de gatos. Ele era louco por animais. Não podia ver um gato que ficava chamando "bichano, bichano". Se visse alguém maltratando um gato era capaz de dar um tiro. Um gato era um bicho melindroso na concepção dele. Um ser humano não era nada pra ele. Ele mesmo se pensava sem valor. O que ele era? Ele era somente um filho sem mãe e sem pai. O pai passava longe dele e fazia de conta que não o via.
          (...)
          O investigador ficou olhando pra ele. Um quadro desolador: grades e paredes imundas. Um fedor de urina insuportável. Morceguinho sentado encostado na parede com os joelhos bem junto ao rosto. Sujo até a raiz do cabelo. A cabeça baixa e de vez em quando um soluço sentido, um soluço que falava de uma mágoa antiga, dolorida. Os outros presos tinham conseguido um indulto e tinham ido pra casa e mais outros tinham descido à penitenciária.
          (...) 
          O investigador não estava mais aguentando e se perguntava: "Meu Deus, o que é que eu tô fazendo hoje, aqui? Por que não aproveitei o feriado?"
          (...)
                 Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pags. 53 a 56
                                                ...
          Só a Conceição pra barrar este conto!...
          Somente a tragédia da Conceição é mais triste que a história do Morceguinho. Gente!... Eu mesma fico chocada com o meu Morceguinho. Porque, se você parar pra pensar, poderá responder: O que seria do Morceguinho? Abandonado pelo pai, pela mãe. Ficou com a avó que morreu. Ficou com o avô alcoolatra que não gostava dele. Sim. Pergunto outra vez: O que seria do Morceguinho?
          Meu personagem é uma vítima do descaso social. Muitos morcegos por aí saídos desta fábrica chamada sexo casual. Desta fábrica que brinca com filhos no mundo.
          Um império de Indiferença. Começando em casa (sem amor) e terminando no crime (com ardor). Não quero de maneira alguma justificar os crimes do Morceguinho. Quero mostrar COMO e de ONDE vem tantos morcegos. Entenderam? 
          Uma vez visitei uma delegacia em Breves. Vi muitos morcegos que super-lotavam uma cela. Um deles me pediu um remédio pra dor de dente: meu coração se partiu.
          Muita tristeza. Muita sujeira. Muito abandono e nenhuma esperança, quer dizer, levei a Luz pra eles. Mas, eu não tinha nenhum remédio pra dor de dente.
          Abraços
          Luzia Almeida

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

7. Conceição

          (...)
          Na segunda-feira ele perguntava:
          - O que foi esse machucado no teu olho?
          E ela respondia tristemente:
          - Tu me bateste de novo. - e chorava baixinho pra vizinha não escutar.
          Ele se desculpava e prometia não bater mais. Dizia que ia parar de beber. Toda segunda-feira era dia de promessa.
           (...)
          Os poemas de Conceição era exatamente seu relacionamento com a Lua, sua identificação e seus projetos de felicidade que ela considerava correr atrás do vento. O poema preferido dela era:
          Lua & Vento
          A lua
          Quando fica debruçada na janela da noite,
          Vê as meninas nas calçadas
          Pensativa fica.
          A lua é outro eu impossível...
          É móvel sem que se note,
          É versátil sem que se sinta.
          Coroa flores,
          Manipula amores.
          A lua é o sol disfarçado,
          As estradas que o digam.
          Vejo agora a lua
          Que não sou eu
          Que não é de ninguém.
          As meninas das calçadas
          Agora correm atrás do vento...

          A lua é o vento.
          (...)
                Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pags. 49 a 51.
                                                ***
Quero registrar a minha total indignação contra esta situação que assola o Brasil e o mundo: a violência contra a mulher.
Quando, na sala de aula, eu toco neste assunto, sempre pergunto aos alunos: Vocês sabem por que o homem bate em mulher? Eles ficam esperando a resposta. Eu digo:
SIMPLESMENTE PORQUE ELE É MAIS FORTE. E sem nenhum caráter. Ou seja: uma tonelada de covardia e ausência total de dignidade.
Faz tempo que a sociedade brasileira perdeu seus valores:
A Lei Maria da Penha não dá conta desta epidemia. Talvez,
quem sabe... viesse por aí a Lei Maria da Montanha. Uma montanha toda azul que abrigasse as mulheres e as deixasse  bem longe de seus agressores. Sabemos que uma montanha assim é pura mágica. Então... quem sabe... se não seria o caso de pensarmos numa Educação voltada aos Valores Sociais, Morais e Espirituais? Quem sabe?
Abraços
                  Luzia Almeida  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

6. Vestido branco

          (...)
          Agora, no quarto, ela olhava o vestido que estava em cima da cama. Vestido de cambraia branca com bordado inglês. Ela ficou sentada na cama passando a mão no vestido e naquela pureza que gritava transparências. Um lindo vestido de donzela.
          A lembrança de Luiz e toda a sua repulsa por ele. Seu ódio cristalizado... e chega a madrinha com este vestido branco e vem o padre com essa história de "paz com todos". Mas não era só a madrinha e o padre. Ela tinha decorado um versículo bíblico. Um versículo do livro de Hebreus. Ela conhecia aquele texto de cor e salteado: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor."
          (...)
                         Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pag. 44
                                                    ...
          Gosto demais deste conto porque ele é fruto de um conto (O vôo da primeira pedra) muio interessante que li. Eis um trecho dele:
          (...)
          "Não se deve olhar os pecados dos outros. O que está dito na humanidade de um erro, as faltas de todas as gentes. A ninguém é digno atirar a primeira pedra, mas Atanásio, por esses dias, não dorme em paz. Por um relâmpago em seus olhos, um calar de palavras, um consentimento, corrompeu-se. E isso está matando esse homem. Quisera ele voltar o tempo. Com seus braços fazer a roda do mundo girar em sentido anti-horário. Três dias atrás, se as mesmas horas voltassem, Atanásio redimiria sua culpa. Exato, sem nenhuma hesitação, um acerto:
          - Não, Dona Constância, a senhora já me pagou."
          (...)
                                  Daniel Leite. INVISIBILIDADES pag.17
                                                   ...
          Os fragmentos dos contos apresentados revelam a condição humana, o erro, o pecado e como os personagens sofrem com suas falhas (ou humanidades). Qundo lemos, aprendemos a partir da ótica do outro, de suas ideias que, por vezes, convencem-nos ou  fazem-nos pensar sobre aspectos interessantes do comportamento humano. No meu caso, além de pensar, gosto de escrever sobre esse convencimento ou uma possivel rejeição de ideia.
          Convencimento ou rejeição? É conferir!..
          Abraços
          Luzia Almeida