As três malas estavam prontas. Douglas chamou um carro pelo aplicativo e seguiu para a casa da tia Lourdes. Ele havia mandado mensagens, mas ela não respondeu, não acreditou que era uma briga de verdade. Achou que se entenderiam. Então ela foi ao supermercado.
Quando Douglas chegou, percebeu que a
casa tinha sido pintada recentemente. Estava pintada de branco com porta e janela
azuis. A porta estava fechada, mas o gato da tia Lourdes estava na janela como
se fosse o anfitrião. Ao ver Luke, Douglas sorriu satisfeito:
— Olá, amigão! — E fez um carinho na cabeça do gato que se
espreguiçou como a pedir mais carinho.
Ele tocou a campainha e esperou. O
gato desceu da janela e ficou roçando as pernas da calça do rapaz. Ele iria
tocar a campainha de novo quando avistou a tia dobrando a esquina com uma
sacola de supermercado. Ele sorriu ao vê-la e esperou:
Ela disse feliz:
— Olá, meu querido!...
— Tudo bem com a senhora?
— Olha, o Luke anda muito travesso e,
às vezes, o reumatismo se lembra de mim. Tirando isso, está tudo bem...
Ele sorriu.
Tia Lourdes abriu a porta e entrou.
Douglas entrou em seguida com as malas que ficaram encostadas próximo da porta.
Sentaram-se na sala:
— Tia...
— Tudo bem, tudo bem... você não
precisa me explicar nada. Eu pensei que era uma briga de momento e que vocês
fariam as pazes...
— Pois é...
— Então, sinta-se em casa. Você é meu
sobrinho. Sinto-me feliz com sua companhia... fique aqui o tempo que quiser...
— Obrigado!... Mas, vou procurar uma
casa ou um apartamento pra alugar...
— Tudo bem! Tudo bem! Não tenha
pressa... vou colocar a ração pro Luke e já volto pra arrumar seu quarto.
Ela levantou-se, pegou a sacola que
tinha ficado em cima do sofá e seguiu para a cozinha:
— Luke!
O gato seguiu manhoso obedecendo à
voz da dona.
Douglas ficou sentado e vendo a
amizade dos dois. E, de repente, sentiu-se entranho na casa da tia. O que ele
estava fazendo ali? Na casa da tia? Já com quase 30 anos?
A tia voltou e sentou-se. Disse com
carinho:
— Às vezes não vemos solução para o
problema porque estamos dentro dele...
— É verdade...
— Tens certeza de que não há nada a
fazer?
Douglas ficou calado. Depois disse:
— Somos muito diferentes...
— Eu era muito diferente do meu
marido, quero dizer, totalmente diferente e vivemos felizes durante quarenta.
Douglas sorriu. Levantou-se da
cadeira e olhou pela janela.
— Gosto daqui. É tranquila esta
rua... e a senhora mandou pintar a casa...
— Sim, já tinha pintado de todas as
cores...
— Só faltava pintar de branco!...
— Sim. Só faltava pintar de branco.
— Mas, vamos comer alguma coisa.
Ele foi com ela pra cozinha, mas não
sentou pra lanchar. Foi direto para o quintal e viu a mangueira. “Que beleza!”,
pensou.
— Venha tomar um suco!
Ele olhou pra ela com carinho. Entrou
na cozinha e viu a hora no relógio da parede. Eram onze horas. Ele sentou-se e
de onde estava viu uma foto de aniversário dele com a tia.
— A senhora gosta muito daquela
foto... — e apontou em direção à estante na sala.
— Ah, sim! Gosto muito. Mês passado
eu lembrei do seu aniversário.
Ele ficou parado e pensando com
aquelas palavras na mente: mês passado, mês passado, mês passado... e
perguntou:
— Tia, hoje é sábado dia 26?
— 27! — ela exclamou.
Ele baixou a cabeça numa tristeza que
fazia pena.
A tia perguntou:
— O que foi, Douglas?
Ele levantou a cabeça e disse:
— Hoje é o aniversário da Paula. — E suspirou profundamente.
Luzia Almeida
O vermelho da segunda página
(Partes 1 e 2) em jornal IMAGEM DA ILHA:
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