segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Filhos do sol

É tarde e a noite dorme,
adormecida no silêncio do seu eu.
Viaja.
Longe do que é presente
ela sonha com o sol.
Delira.
Vê sua triste história,
canta canções antigas,
brinca... estrelas perdidas.´
Pára.
No limiar do universo, escuta verso.
Decora.
Sombria vai, sonhando acorda,
que o tempo determina seu porto, seu cais.
*
Os raios são fatais, cruéis...
eles são todos iguais:
Amam a luz.
Imperam.
Dominam,.
É cedo e a noite acorda.
(Luzia Almeida)
* * *
Poesia publicada pelo Jornal
O LIBERAL em:08/03/1992.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Palavras

São flocos escorregadios;
luzentes, nebulosos, semideuses ...
Buscam a plenitude do olhar:
Calam.
Choram.
Vibram.
*
Flocos gentis ou ousados.
Às vezes massacram sem pena, sem lei.
*
Capazes de matar,
capazes de sorrir.
Sorrir, pois a vida é uma flor,
e o vento invade, e a chuva clama ...
*
Vasta solidão das linguagens!...
Dos entendimentos controlados,
contados, varridos e espionados.
(Luzia Almeida)
*
Poesia publicada no jornal
O LIBERAL em 13/09/1992.

Mel do avesso

A primavera dos teus olhos
tilinta como metal,
perde a cor,
o brilho,
vaga entre lírios pasmados.
*
Suculentos vapores
expressam-se neles.
Infalivelmente:
Vibra,
fascina,
caminha ao contrário.
*
Teus olhos lírios,
borboletas de desertos,
cravam como cravos
no decote vermelho do meu coração.
*
Cravos com lâmina e perfume,
ventos fugitivos,
cantos alucinantes,
"vozes vaporosas".
Cantam. Falam.
Juntos, pertos ...
até que a porta se abra
e uma voz desconhecida se faça anunciar.
(Luzia Almeida)
*
Poesia publicada no jornal de
Belém do Pará, O LIBERAL: 29/02/1992.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Folha

Leva a folha o vento
que não pensa.
Leva a folha o rio
que não pára.
A folha
que apesar de verde
é incapaz de pensar:
que existe tempo e latão.
*
Assim...
Deixa-se seduzir pelo vento aventureiro,
pelo rio misterioso.
Pobre folha LEVADA!
Bem-aventurada agora. E depois?
- O latão!
O que diz a árvore?
- Deixai-a!
O que pensa a folha?
A folha não pensa ... SONHA!
*
(Luzia Almeida)
Poesia publicada no jornal
O LIBERAL em: 14/01/1992. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lembranças


Até que finde a primavera
verei o teu rosto
vencido pelo presente
ausente do que virá a ser eterno...
Até que finde a primavera.

A primavera findou,
e o teu rosto
embora presente,
lança óleo no oceano...
Grande,
Vazio,
Perdido,
Meu!
 Luzia Almeida
*    *    *
Poesia publicada no Jornal
O LIBERAL em: 01/01/1992.