Paula chegou a casa respirando como um tigre. E o barulho que ela fez ao entrar quase acordou Douglas que dormia no sofá. Ela o observava pensativa e foi se dando conta do ambiente que a aguardava no dia anterior. A mesa continuava posta com flores e com seu presente de aniversário. Ela se aproximou da mesa e fez a leitura: "Ah, ele se lembrou do meu aniversário... então por que não me parabenizou logo?", ela pensava.
Douglas se mexeu no sofá.
A moça pegou o presente e sentou na poltrona da sala. Bem diante de Douglas que finalmente acordou e deu com ela sentada e com o presente na mão.
- Bom dia! - ela disse.
- Bom dia! - ele respondeu e sentou-se no sofá.
- Obrigada por lembrar do meu aniversário!
- Só lembrei depois que você saiu... Se tivesse lembrado antes, não teria deixado você sair e teria preparado um café da manhã especial...
- Não tem problema!
- Fiz seu prato favorito para o jantar, mas você não retornou...
- Ah, eu estava muito aborrecida!...
Douglas não disse nada. Ela continuou:
- Mas agradeço o presente. O que é?
- Abra!
Então ela abriu o presente e se encantou com o relógio de pendurar com formato de coruja.
- Lindo! - ela sorriu agradecida.
Douglas sorriu também. Mas sentia-se como um ator. Sua representação era fraca e seu comportamento era quase hipócrita. Só retornou a casa porque lembrou-se de que era aniversário dela. Mas, esse dia já havia passado, foi ontem, e agora ele a tinha diante de si e não sabia o que fazer.
Paula viu o caderno do lado dele e perguntou:
- Escreveste um poema?
- Não!... Escrevi outra coisa...
- O quê?
- Nada importante...
- Deixa eu ver?
Ele levantou-se do sofá com o caderno na mão. Não sabia o que fazer com o vermelho da segunda página que ele ainda não tinha dado um fim e não sabia mais se ainda era vermelho ou se havia se tornado azul.
Paula insistiu com ele.
- Por favor, deixa eu ler.
E ele respondeu:
- A vida da gente é muito engraçada... num instante estamos aqui e noutro instante não estamos. Um instante estamos com uma pessoa e a queremos bem, outro instante somos ludibriados por circunstâncias que nos convocam a tomar decisões...
Paula olhava pra ele sem entender direito:
- Não estou entendendo!
- Eu sei. Mas, não se preocupe, ainda esta semana você entenderá.
Paula ficou olhando pra ele e o seguiu com o olhos esperando que ele largasse o caderno em qualquer lugar e então poderia descobrir o enigma "desse instante". Mas ele não largou, pelo contrário, dirigiu-se para o quarto, entrou e fechou a porta.
Luzia Almeida.