quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O vermelho da segunda página (IV)

 

A notícia que era dia 19 trouxe um problema para Douglas. Era o aniversário de Paula e ele tinha saído de casa. Não era justo porque, mês passado, ela tinha feito festa pra ele. "E agora?", ele pensou num mistura de tristeza e solidão. 

Tia Lourdes o observava e perguntou:

- Aconteceu alguma coisa?

Ele olhou pra ela num desalento que fazia pena:

- Hoje é o aniversário dela. E... saí de casa... e nem lavei as louças.

A tia ficou com vontade rir, mas se segurou. Ela o olhava pensativa. Perguntou:

- Ela viu você sair com as malas?

- Não! Ela saiu primeiro. Disse que iria pra casa da irmã.

- Então!... Nem tudo está perdido... 

- Como assim?

- Ora, Douglas. Você acabou de chegar... volte pra casa e deixe esse rompimento pra outro dia...

- Mas, tia!...

- Hoje é o aniversário dela... Você tem que retribuir. Ora, você nem se lemvrava...

Douglas baixou a cabeça desalentado. Mas, perguntou:

- E se eu voltar e me encontrar com ela?...

- É um risco que você tem que correr...

Ele concordou:

- Está bem!

- E compre um presente!...

- Tudo bem! Tudo bem!...

Ele pegou o celular e chamou um carro pelo aplicativo. A tia o acompanhou até a porta. Só Luke não estava entendendo o que estava acontecendo. Ficou miando para chamar a atenção, mas ninguém deu confiança pra ele.

Ao chegar a casa, ele guardou as roupas e os livros rapidamente. Trocou de roupa e foi para a cozinha lavar as louças. Pensou: "Quando acabar daqui vou sair pra comprar o presente.

A pia estava brilhando. Ele passou uma vassoura na cazinha, juntou o lixo e levou para fora. Depois tomou um banho e saiu para comprar o presente dela.

Na loja, se agradou dos relógios que estavam pendurados. Paula adorava relógios e havia uns com formato de coruja. "Ela vai gostar", ele tinha certeza. Ela gostava de relógios e de corujas.

Douglas, antes de retornar para casa, passou na feira e comprou camarão e creme de leite. Iria fazer o prato favorito dela. Também comprou flores e uma garrafa de vinho. "Pra quê tudo isso?". Ele não estava entendendo direito o próprio comportamento. Será que seria só uma retribuição de aniversário ou ele estava feliz por voltar a casa? Ele não sabia.

Voltou.

Fez almoço e deixou o camarão descascado para fazer a receita de que ela tanto gostava.  

Almoçou sozinho... sempre olhando para o celular pra ver se ela tinha mandado mensagem, mas Paula não mandava nada.

À noite, ele fez o jantar. Arrumou a mesa com as flores e colocou o presente em destaque na mesa. Só então se lembrou do que tinha escrito no caderno novo. Pegou o caderno na sala e leu novamente, mas agora, muito do que tinha escrito, perdeu o sentido... porque, na verdade, ele tinha exagerado e era uma coisa que eles já tinham conversado. Ela tinha falado: "Você redimensiona os problemas, Douglas... E eu nasci pra resolver problemas". Era verdade. Ele tinha a tendência de fazer uma tempestade num copo d'água. 

Douglas sentou-se no sofá da sala e a esperou por toda a noite. Mas Paula não voltou.

Luzia Almeida


Nenhum comentário:

Postar um comentário