quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ser professora...

... não é fácil!
Vou contar pra vocês umas histórias de sala de aula:
Primeira história:
Era uma turma da noite, do ensino médio. Eu lembro benzinho que cheguei com um texto sobre violência contra a mulher. Eu cheguei, dei "Boa noite" à turma (turma boa, tranquila) e comecei falando sobre a sociedade brasileira... isso tudo para introduzir o assunto. Então eu falei: "Hoje vamos tratar da questão da violência contra a mulher e eu iria começar a distribuir uma cópia de um artigo da revista Veja. Como disse "Eu iria distribuir o material" porque uma aluna que estava sentada bem na primeira fila me chamou e disse bem baixinho só pra eu ouvir: "Professora, por favor, não toque nesse assunto." Eu percebi no rosto dela as questões que eu iria tratar. Não deu. Pensei "E agora?" Agora seria o plano B e pra quem tem todo o alfabeto na memória isso, claro, não foi difícil.
Segunda história:
Também à noite, o texto era meu, um conto : CHOCOLATE AMARGO, do meu segundo livro. Tema: pedofilia. A aluna me deixou ler o texto, mas depois na hora do debate ela disse "Professora, fui abusada com 11 anos". Eu fiquei num estado de nervo com aquela verdade monstruosa que não mais sabia dar andamento à aula. Mas, fui... como vocês já sabem: o alfabeto é meu!
Terceira História:
Um palavrão escrito na parede da sala de aula, toda aula e o palavrão lá. Toda aula, toda aula. Até que um dia eu falei qualquer coisa sobre aquela imundície escrita na parede e alguém falou: "Foi fulana!" E fulana estava na sala. Eu disse: "O quê? Você escreveu isso na parede?!" A fulana ficou toda sem graça e assim confirmou que tinha sido ela mesma. Eu disse: "Vá pegar água e sabão e vá já, já lavar toda essa sujeira!" Ela foi e lavou. As aulas seguintes sem palavrão foram bem melhores.
Agora chega de histórias tristes!...
Eu não estava na sala de aula, estava na secretaria e uma aluna estava lá também fazendo não sei o quê. Ela me viu e disse meio sem graça: "A senhora se lembra daquela noite... a senhora disse umas palavras... Eu fiquei olhando pra ela, pensando "que noite? que palavras? Ela continuou: "Eu ia fazer uma coisa errada, mas a senhora disse aquilo e eu não fiz mais..." Eu olhei pra ela e sorri. Às vezes, a gente banca a mãe em sala de aula e dá certo. Esse sentimento de simpatia pelo aluno é algo tão grande que, combinado com as palavras certas, surte efeito que só algumas vezes ficamos sabendo. As outras vezes não nos pertence, mas esse exemplo pra mim é um incentivo para tentar botar juízo numas cabecinhas de vento. 
NÃO DISISTIR É PRECISO!
São muitas as histórias. O que me tem feito pensar muito no meu comportamento é no modo como sou vista pelos meus alunos. O Samuel bate continência quando eu passo e o Rafael me chama de mãe e pede a bênção. Todas as vezes que me vê ele diz "Bença, mãe" e eu digo "Deus te abençoe" e eu fico nesta fronteira: entre a continência e palavra. Isso é ser professora. E as fronteiras falam sobre este público diverso.
Agora: 
Vou contar a mais linda de todas. Toda aula é uma luta e um dragão que tenho que matar e se mato o dragão da preguiça, do descaso e da indisciplina eu me fortaleço nessa sempre luta diária e se a turma fosse homogênea eu estaria perdida. Não estou. A turma é heterogênea: dragão morto e vejo pela sala alguns sorrisos daqueles que serão os futuros profissionais e que vêem na figura da professora a bússola para o sucesso. Então eu afio a lança e que venham todos os dragões do mundo que eu não tenho medo!
                                                   ***
Luzia da Silva Almeida
Meu carinho e respeito a todos os professores da minha vida: da Escola Municipal República de Portugal à Universidade da Amazônia - Unama. 
Meu carinho e respeito aos meus colegas professores da Escola Regina Coeli Souza e Silva e aos meus colegas do Mestrado 2014 da UNAMA.
Meu carinho e respeito às minhas irmãs Lilian da Silva Almeida e Heloisa Helena Almeida Mendes. À amiga Christiane Menezes Oliveira que, como eu, lutam as mesmas lutas e que, com certeza, têm muitas histórias pra contar:
MUITO AZUL E MUITAS FLORES PRA VOCÊS!

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