terça-feira, 10 de dezembro de 2013

17. Sem sobrenome

     Ele caminha entre os trigais. O sol de abril faz um brilho zangado entre os caminhos. O vento bate e o homem, ao senti-lo, encolhe-se de um frio que é mais sugestão que sentido. Ele levanta os olhos para o sol e concentra-se de novo naquela triste ideia: partir.
     O homem caminha entre os trigais e abril deixou de ser uma canção. Passou a ser uma dor como aquela que ele sentiu pela manhã.
     Ao acordar uma tristeza indizível com anúncios de fatalidade o seduziu. Ele é fraco. Seu caminho: tortuoso. Sua vida: de misérias. Não teve amores. A solidão o persegue e a angústia é sua irmã.
     Deixou sua casa pela manhã para nunca mais voltar. O quadro ficou quase pronto. Os girassóis convidavam o pincel para o ajuste final. O pincel quase trabalhava sozinho para que aquela beleza pudesse nascer. O homem largou o pincel, as tintas ficaram abandonadas. Ele curvou-se na pia para lavar as mãos. Olhou mais uma vez para o quadro inacabado, ...
     (...)
            Luzia Almeida. OS INESQUECÍVEIS. pag. 87

Nenhum comentário:

Postar um comentário